terça-feira, 21 de junho de 2016

Memorização

A memorização é um problema que aterroriza qualquer pessoa que comece a aprender um idioma, ou um idioma dentro do seu próprio idioma ( mediquês, juridiquês, etc. ).

Em um idioma qualquer, em média, 20% das palavras aparecem em 80% do texto, e 80% das palavras aparecem em 20% do texto. Essas poucas palavras que aparecem muitas vezes dificilmente podem ser substituídas por outras ( tente trocar "qualquer" por outra palavra, por exemplo ). Já as muitas palavras que aparecem poucas vezes possuem vários sinônimos. Se eu não sei a palavra "ingênuo", eu posso dizer "inocente", ou "puro".

Sendo que os idiomas se comportam dessa forma, a melhor estratégia parece ser a seguinte:

No estágio inicial, onde você entende menos de 80% do texto, isto é, se de cada dez palavras, você entende menos do que oito, é melhor se focalizar em memorizar as palavras mais comuns. Para isso você pode usar o Anki, o qual já comentei em um post anterior, que é muito útil em situações onde você não pode se concentrar muito ( dentro de veículos, ou em lugares barulhentos, etc. ).

Mas o Anki não é indispensável. Você pode simplesmente utilizar flashcards comuns, feitos de papel e caneta mesmo, e ver eles uma ou duas vezes na semana até ficar acostumado com eles, e depois jogá-los fora, ou passar a vê-los menos vezes, talvez uma vez a cada um ou dois meses.

( Flashcards, pra quem não sabe, são cartões onde a pergunta vem na frente e a resposta vem no verso. No nosso caso, a palavra/sentença no idioma original na frente e a tradução no verso. ).

Existem muitas pessoas que dizem que a repetição espaçada é imensamente superior à repetição em intervalos iguais, e que existe algum tipo de intervalo perfeito que vai te economizar tempo de memorização. A verdade é que existem estudos demonstrando que não existe grande diferença entre repetição espaçada e repetição em intervalos iguais, e que é muito difícil dizer qual é o método mais eficiente. Então, tanto faz usar Anki quanto não usar; quem não tem afinidade com isso, pode muito bem dispensar.

Nesse estágio, em que você ainda não passou dos 80%, é muito interessante ler textos paralelos, isto é, a tradução lado a lado com o original. Existem vários sites de notícias bilíngues, além de livros publicados em vários idiomas.

Depois que você já chegou no estágio em que entende 80% dos textos, quando de cada vez palavras, você entende oito ou mais, aí já é hora de dispensar o Anki, os flashcards e os textos paralelos, porque adquirir palavras novas para você está deixando de ser "preciso aprender palavras que eu devo saber" para virar "quero aprender palavras que seria legal ou bonito eu saber, mas que eu poderia sobreviver sem elas".

Nesse estágio, já não é mais interessante mirar em palavras individuais, como você fazia com o Anki ou com os flashcards, mas adotar uma estratégia mais difusa. Simplesmente ler vários textos um pouco mais difíceis do que o comum e ir consultar o dicionário somente quando absolutamente necessário pode ser uma boa idéia.

Algumas pessoas chegam a nunca usar Anki e/ou flashcards, como é o caso do próprio Alexander Arguelles. Ele vai desde o princípio com textos paralelos que aumentam gradualmente de complexidade, até finalmente conseguir dispensar os textos e ler direto do original.

Isso pode dar certo para idiomas como o inglês, em que chegar nos 80% de compreensão é relativamente fácil, mas para quem está aprendendo algo mais distante ( como japonês ), eu acredito que os flashcards são muito úteis e a diferença entre usar e não usar é bastante grande para quem está nos estágios iniciais. Não é a toa que os maiores usuários do Anki são estudantes de japonês, e que o criador original do SuperMemo era uma pessoa que estava aprendendo um idioma bem distante do seu ( Piotr Wozniak era um polonês aprendendo inglês ).

Nenhum comentário:

Postar um comentário